sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

ENSAIO PARA O AMOR... Direitos reservados

TEXTO

ENSAIO PARA O AMOR

AUTOR

ANTONIO MARCELO
TEATRO


PEÇA TEATRAL


ENSAIO PARA O AMOR

BRENO COMEÇA A SE MEXER NA CAMA. ELE VESTE UM PIJAMA BRANCO.


Não consigo adormecer. Estou rolando de um lado a outro no silêncio denunciante. Denunciador de coisas que não posso esquecer. A semana foi cheia de emoções... Ainda não estou velho, mas conhecedor de fortes sensações. Sou a mecha branca de meus próprios cabelos e não existe desabafo. Conheci hoje alguém, desses alguéns que vejo e me encanto. Que me faz perder o sono, que me inquieta e me excita. O anjo se auto-penitência, se degreda de amor e fantasia. Eu sou o eu de uma nova roupagem, já velha, depreciado e aliciador da minha própria matéria. (SENTA. PAUSA) Vem, eu te chamo cheio de orgasmo para te dar. Sou a equação, o denominador comum, facetário dessa noite madrugadora e sem álcool, e, no entanto insana. Tu podes ser meu... Essa idéia já me persegue.

BRENO RODOPIA PELO PALCO

Eu estou bem mais suave... também mais quente que um bolero, mais ardente que a saudade da dor marcada nas batidas de um tango. Será que me apaixonei? Que pergunta infantil? Agora é que sou eu, eu cínico, eu desaforado, eu malícia, eu sexo pronto, eu cabeça fria, eu... Deus domiciliado em alguma boca, eu sensualidade estampada à flor da pele, eu, cio da própria carne tantas vezes gozada e remanescente para a nova e concebível batalha.

COM ALGUM OBJETO NA MÃO

Pensei em você... Que tolice, que repetida, gasta e renovada frase. Ela não desiste, insiste em estar na boca de muitos amantes. Não quero gozo, quero repouso. Por isso, pensei em você tantas vezes no mesmo dia, na mesma noite. Tu gostas do que eu gosto, tu tens a minha sensibilidade, teus versos me agradam, embora não sejam meus. Sim, mas isso não tira o mérito da tua sensibilidade poética. Aqui, a música toca, toca... toca na vitrola e bem dentro de mim. O ritual permanece... me abusa, e hipnotizado me endereço a tua casa. Sou estúpido? Não. Sou o tanto, apenas a medida certa.

CAMINHANDO PELO CENÁRIO

Hoje, você me fez pensar. Há coisas que são essenciais, mas que eu nunca me pré dispus a questionar. “Que rumo vai tomar a minha vida?” Para aonde é que eu estou caminhando? Bem que você pode ser uma luz no meu caminho. Me ilumine para que eu não me perca na minha própria luz. Eu já não tenho a mesma tolerância de antes, e às vezes, recomeçar é tão complicado. Quanto a primeira tentativa. Que sou eu? Abraço-me no mistério que me chega, e eu perco a possibilidade de estar. Eu apenas permaneço contagiado por algo que parece me esperar em algum ponto inatingível. Os mortos não me provocam medo, e, no entanto a coragem dos vivos não me excita. Eu permaneço, e só quando a frase se completa é que eu entendo que permaneço estacionado. Sabe, hoje, eu percebo uma solidão gasta e, no entanto vez e outra presente. Por onde passa o tal caminho que pode levar alguém ao paraíso? Aqui, o tempo me diz verdades batidas pelos dias e noites infindáveis de poesias recriadas. Nunca um novo verso no mesmo verso. Estou pensando no perigo que preciso correr em nome do amor. O perigo que me aproxima de algum paraíso aberto ou um abismo camuflado. É o que é e só. A frase se encolhe na barriga da promessa que não se faz ao findar o dia. Depois é possível que se encontre a familiarização do enigma que se desenvolve progressivamente. Ganhar ou perder? Uma soma sem resultado. Toda a matemática é exata. E a vida é, mas não se torna dentro da possibilidade que me atinge. Eu tenho apenas um segundo e uma noite inteira para sonhar com alguma coisa que não me propõe um estandarte, mas que pode propor. Nunca mais falei inglês, pois a língua afiada me ganha. Às vezes uso uma expressão inglesa. Acho interessante. Tem gente que diz que é cafona. Por exemplo, adoro repetir – “forever by your side”. Estou com sono... Eu preciso, mas não prefiro dormir.

MUDANÇA DE LUZ. LUZ COMO SE RAIOS DE SOL INVADISSEM O PALCO, CORES DIVERSAS.

Agora, em poucos segundos se abre o sol pela madrugada, e tudo não passa de uma luz no cérebro. Há um sol dentro de mim. E eu o que será que sei ser. Só. A ambigüidade faz o enlace de qualquer fato que eu ainda não soube dizer. Estou poético, exageradamente romântico. Há consciência de tudo isso. Sou humano e um humano tomado pelo egoísmo sabe amar. Salubananã. Não sei o que pode ser, mas é inviolável a força de uma palavra. Também só. Me inquieta esse acontecimento. Eu me reconheço nessa aceleração primeira e, portanto estranha. Por que não adormecer e sonhar? Esta é a minha pretensão. Mas eu já estou sonhando.

VOLTA ILUMINAÇÃO ANTERIOR.
BRENO ESCREVENDO, DEPOIS FICA COM O PAPEL NA MÃO E SOLTA PARA O ALTO.


Voltei a escrever... Voltei por puro entusiasmo. E nessa noite, é para você que eu escrevo. Você que se chama Marco, Angélica, Glória, Giovana, Antônio, que se chama tanta coisa e ao mesmo tempo uma incógnita. Todo amante é uma incógnita. Sabemos tudo sobre eles, menos a identidade deles. Sabe, eu sempre fui muito pai dos meus amigos, possuidor de um guia movido a liderança, e muitas vezes eu disse a mim mesmo: - “Não vou deixar os mortais se aproximarem de mim.” E agora, eu vejo que a traição circunda em nosso espaço pessoal. É dentro de cada um de nós que existe... Digo isso porque sei que também não tenho culpa de gostar de poesia, não tenho culpa, assim como você de ser sensível. Isto tudo é um privilégio que não vou abrir mão. E foi essa mesma sensibilidade que fez eu perceber você confuso... Sei lá. É nisso que me vejo traidor porque eu disse nos últimos anos, não me preocupar com mais ninguém.
Eu não vou dizer nem pretendo, mas eu tenho o meu conceito sobre você. E daí? Se você deixar, eu me agarro a você. Senti isso, a primeira vez que lhe vi, veio essa necessidade brusca, repentina, e o que mais for. Quando percebi, eu já estava dentro da sua casa, dentro do seu mundo. E a única coisa que eu posso dar como resposta é um gesto simples, porém fatal de cumplicidade. Por que lhe digo isso? Não sei. Ou até posso saber. Deve ser difícil para você morar distante... estar fora do ninho, mas você não é um estranho. Existe em você uma atitude qualquer que me atinge... Pausa para eu perceber e acompanhar o roteiro que eu faço no ato de escrever. Sabe o que descubro? Que para todos que amei eu disse esta frase: - Eu esperei por você a vida inteira. É, esta frase sempre foi dita. E você qual é aquela frase que faz parte do seu jogo de sedução. Diga. Você não é diferente de mim, todo mundo diz alguma coisa repetitiva para seu novo amor. Eu também já cheguei a usar essa aqui: - Eu nunca me entreguei a alguém como me entreguei a você. Mas deixei de dizer isso porque alguém me disse que não havia nisso nenhuma originalidade. Era um termo brega e apelativo.
Não fique triste, talvez nenhum motivo ou outro venha valer a pena. Tudo bem, eu vou tentar ser mais original quando o assunto for você. Quem somos nós? Apenas um ato ou nada mais que um instante. A sua presença é contágio e jamais há de passar desperceptível. Não pense na força atrativa do desânimo. Você é sorriso de luz. Talvez isso tivesse mais importância se fosse dito por alguém que você não sabe onde está. Por causa de um imbecil que não soube amar toda a humanidade se perdeu. Faça dessa história o seu regresso de vida. Você não é obrigado a me dar importância. Agora eu sei o que eu queria saber, digo isso para você porque a sua tristeza me entristeceu também. Houve uma depressão instantânea e milenar a me perseguir até em casa. Não gosto de ver as pessoas tristes, mesmo que sejam estranhas. Guarde isso com você ou rasgue... Sei lá. Mas se você rasgar nunca mais eu falo com você. E ai, há algum espaço na sua vida que pode ser ocupado por mim? Seja sincero. Porque independente disso, tudo passa e, no entanto nós podemos sorrir. Tudo pode acontecer. Continua chateado? Espero que a chateação não seja comigo. Será que eu estou presente na hora errada? Não é a primeira vez que isso acontece. E nisso posso incomodar. Se for isso vá se fuder. Vá se fuder bem longe de mim. Desculpe por uma razão ou outra... Quero um sorriso aberto na chegada. E o que vamos sorrir? E o que vamos pensar? Abobrinhas, talvez, mas que elas sejam sadias. Ou puras com a criança antes do nascer.

BRENO VAI FALANDO COMO SE TIVESSE HIPNOTIZADO.

Estou perdido, aqui, dentro do meu próprio quarto. Eu já não sei para onde a noite me conduz. Tenho pavor. Por alguma coisa que faz a minha língua necessitar... Cadê aquele vento que não me procurou mais? Cadê a minha verdade que se oculta em algum seio estranho? Há uma boca que chama a boca possuidora de um gosto desconhecido, mas que me provoca e excita. Não meu bem, a excitação não tem nada haver com o que eu disse. Se chateou comigo porque mandei você se fuder. Isso por acaso é ruim. Eu adoro. Não estou perdido se houver o sonho madrugador que me faça levantar sonolento. A espera de um olhar passeio pelo espaço curto e gigante onde meus passos alcançam. Nada mais é condizente com o instante, com a hora parida e nunca abortada.

ELE CAMINHA COMO SE OBSERVASSE O MUNDO LÁ FORA

Estou aqui, sem laço, querendo me entregar a alguém. Estou gritando silenciosamente a saudade que vibra dentro de mim, e me faz pensar em sexo com tara e também no sexo apaziguado e amoroso. Será que nada vale nada mesmo? Quero demorar muito a responder isto. Isto não pode pertencer a alguma parte de mim. Eu berro, eu berro três vezes e não me escuto. Veja que estranho. Ainda tenho sono... Um sonho acordado e despertador. Daqui da janela, eu sei que lá fora o mundo se abre, mas não se mostra porque ele é feio, muito feio. Mas o colorido, a noite, as luzes... que belo panorama iluminado.. Eu imagino tudo e não consigo chegar a pensamento algum. Será solidão? Não será porque é. A feição de todos os amores se projeta e com a mesma facilidade se desfazem diante de mim, como um estrato de névoa. E não consigo atingir essa passagem. Salto a linha da escrita para começar a dizer não sei o quê. Talvez a música seja fantástica e o resto das coisas não. A palavra poética é muito bonita, mas falta gente para compreendê-la. Acessá-la. Digeri-la com apetite assim como eu faço com a saliva do amante. Tudo isso é o meu gozo, depois dele vem o repouso. Você compreende o que eu disse? Ou será que eu falo difícil para a sua sensibilidade? Se for isto, desculpe, mas eu não vou empobrecer a minha palavra de amor por sua causa... Faça algum esforço e venha até aqui. Me alegro na tristeza para chegar ao sentimento. Mas com isso eu estou dizendo exatamente outra coisa.
Talvez eu não represente tão bem e não consiga disfarçar. E se sabe que atitude pode vir dele? Como é mesmo aquela frase? – “Que flagelo é o amor para os mortais” – Medeia. Estamos empolgados com uma peça de teatro. Mas isso aqui é tudo real. Muito real. E mais na frente essa realidade não vai existir. Hoje, foi o ensaio para o fotógrafo e para a imprensa. Ocorreu tudo bem, as coisas acontecem na hora, também acredito nisso. O teatro, o brilho, o palco. Eu nasci para essas coisas, para as plumas e paetês. E o amor? Eu procuro exaustivamente e sempre aparece alguém fora de hora. Uma disputa acirrada entre dois objetos ímpares. Talvez Domingo eu vá a casa dele. Domingo não, Quinta feira. Vou colocar a melhor roupa, o meu melhor perfume. Eu não gosto, eu não quero. Pouco tem importância isso, o coração parece que ordena que eu goste e aceite. Tenho sensações fortes, vinda dos deuses medievais. E o que sou? Apenas a exclusividade da hora marcada a espera. Sou o luxo, o tecido mais reluzente de qualquer peça de teatro. Quem tem sabor e mistério na alma? Aonde chega a paixão? Aqui, nós e eus perdidos no sonho madrugador, sempre noturno. Aqui três tempos também ímpares. O amor é um grande julgamento, todo um processo, todo o enfrentamento de uma situação com atitudes polarizadas. Nada mais foi dito pelo réu confesso.
Eu sou esse réu exposto à atitude dele. A verdade é que ele me interessa. Passava da meia noite, eu insone fui bater na porta dele, na casa dele. Era como se uma força me guiasse com um objetivo estranhamente doce... encontrá-lo. Sou submisso a minha vontade. Alguma coisa... Você já observou que eu estou sempre nessa coisa indefinida, desconhecida? Mas o amor provoca isso? Então vamos lá para a coisa indefinida. Alguma coisa me mandava ir, e quem sou eu para não obedecer? Sempre fui muito obediente aos meus pais, aos professores... e não seria agora que eu seria rebelde. Porque ser rebelde logo comigo? Sou submisso a minha vontade e isso é magnífico. Estávamos nós solidíveis a espera talvez do sei lá madrugador... Ele foi direto ao assunto, perguntou o que queria saber. Respondi com a desenvoltura de um ser completamente livre. Que propaganda enganosa... Coisa feia! Enganar os outros em nome do amor. Eu queria apenas que ele visse as minhas qualidades, e eu quero me mostrar assim livre. É provável que se ele não tivesse tocado no assunto eu não teria falado, pelo menos naquela noite não. Ele quis saber porque? Ora porque, eu fui feliz... E se isso aconteceu é porque alguma coisa foi boa. Ele disse assim que há dias estava com essa curiosidade. Isto significa que ele pensou alguma coisa. Viu como o amor é indefinido? Essa palavra alguma coisa sempre aparece. Tudo bem, vou tentar dizer outra palavra. A curiosidade estava relacionada a uma frase que eu havia dito há dias. Nós estávamos ouvindo música, e eu disse que aquela música fazia parte de um tempo em que eu era feliz.
Eu gostaria de ter você por um período, por um instante que se estendesse para a sobriedade e a sinceridade da coisa séria. Será que você vai ser meu assim como foram outros amantes? Somos estranhamente míopes, acho que não nos olhamos ainda olho a olho. Aquele olhar que não deixa fugir e a única alternativa é ficar, aceitar. Sinto falta de alguém, alguém que nesse instante pode ser você. Mas também reconheço que estou só e egoísta demais para batalhar por alguém. Não quero seduzir nem representar uma nova farsa para o amor. Quero alguém de cara limpa, sem maquiagem. Que difícil plano para a realidade e a alucinação. Há um objeto sintetizado no meu drama que se estende voluntariamente e se alastra no meu inconsciente. E já não sei qual é a próxima palavra que reproduz outra e nunca o mesmo amor. Continuou inteligente, continuo a mercê da aceitação do fato. Não vieste na hora exata e veio porque as coisas não se justificam na memória. Apenas o alucinógeno aceita o imprevisível. E o amor é imprevisível assim como a despedida atraída pela morte. Onde está agora aquele que pode me amar? Perdido em alguma lembrança também perdida e falecida. Só sei onde está aquele que eu posso amar. Eu sou a lembrança viva do amor. O mesmo amor que reproduz sexo. Quem ousa mergulhar no meu mundo de perdidas ilusões? Não sei, não sei, não sei. Quem pode saber? Ninguém. Eu sou uma égua no cio ou um touro querendo gozar. Eu sou um homem, um bicho na ânsia de gerar e procriar. Eu sou um vadio no meio da noite pobre porque eu me sobressaio. Estou apaixonado e estranho a pouca luz, mas brilho com o artifício. Já não repito o verbo mas me canso com a nova palavra cheia de ação. Você está em meus braços? Que movimento é esse que me faz ir a dramaticidade estrema? Eu sou alucinógeno e ao mesmo tempo a realidade perfeita. Você me faz gemer, eu faço você gemer e nisso há o pecado santificado. Gozar é a liberdade concedida a poucos deuses. Essa imoralidade santa me faz melhor.
Eu desisto de você antes mesmo da batalha. Eu desisto do pileque e de qualquer outro ato que possa me levar a estar ébrio. Eu desisto de beijar sua boca e talvez seja difícil as duas coisas. O beijo e a conquista. Nada é ponderável em mim, mas eu não admito certas coisas. Fracasso meu que se traduz em tantos amiúdes e, no entanto eu permaneço nele com toda a minha inteligência. Uma inteligência intrínseca cheia de segredos permissíveis. Me abandono para renascer lá na frente, eu sei fazer isso com perfeição. Embora grite e doa dentro de mim.

EM CIMA DE ALGUM DEGRAU, EM UM PLANO MAIS ELEVADO.

Eu não fui um gigante pela própria natureza, apenas me fiz, e construir isso é tarefa demasiadamente pesada. Eu tentei tanta coisa, eu tentei ser eu mesmo, assim como tentei não ser. Me deparei com as duas atitudes e me vi impotente. Toca uma música, o rádio voltou a me fazer companhia, que embalou minhas noites a dezoito anos atrás. E tudo era feito mágica, mas agora perdeu o encanto. E eu me desgarrei de tanto amor vomitado e depois reposto para o mesmo lugar. As noites me enfeitiçam e me perco numa armadilha escura e sem chance de escapar. Afinal, qual é a verdade sobre o amor? Nada está tão só, mas eu percebo o germe do abandono que semeia aqui a mesma dor. Eu preciso chorar nos braços de alguém – alarma a carência. Amanhã tudo vai estar bem, eu sei... Tenho conhecimento da minha força. Eu sempre renasci, repetindo o mesmo ritual de uma forma milenar. A coroa que erroneamente transportei ao longo dos anos na minha cabeça há muito tempo que começou a pesar, e, no entanto eu não tinha percebido esse peso. Agora não tenho como ignorar ou fingir. Sabe o que é mais difícil para um deus? O peso que ele carrega. Por favor, se você quer me amar, saiba que eu não sou perfeito.

CONTINUA A CARTA APANHADA NO CHÃO

Que motivo terá essa tal agonia? Eu estava dizendo que desistia e é muito difícil acreditar nisso. Eu tenho vaidade, mas eu perdi mais uma vez. Eu não sou fraco, não almejei a derrota, mas ela chegou do mesmo jeito. Piedade senhor, piedade para o que digo: - Nessa noite eu quero dedicar todo o poder ao pecado. Talvez o pecado saiba administrar o gozo que a vida não oferece. Oferece sim, é pena que o meu apetite que é você, me esnoba. “Estranho e Só”. Eu fiquei estranho e só. Há perto de mim, um casarão imenso habitado por fantasmas que também não encontram a paz. A vida continua gritando e não diz nada. E diz, mas não é o que eu quero ouvir. Eu perco a batalha e me recuso a me entregar. O herói clássico imbecilmente não foge a luta... E estupidamente eu tento imitar isso como se a vida fosse um palco. A vida não é um palco, tantas vezes isso foi discutido e não convenceu ninguém. Eu não me convenci dessa verdade.

AFASTANDO-SE DO LUGAR ONDE ESTAVA

Vou ignorar você para chamar sua atenção. Não consigo ser menos infantil. Continuarei a gritar nessa noite feito o lobo no cio a uivar para a lua cheia. É verdade, eu disse que quem gritava era a vida. Será que a sua insensibilidade não pode ver? Merda, a vida sou eu. Sou eu quem grita chamando você. Você não vê planos para nós? Que bobagem isso. Nada é eterno. Eu quero o seu sexo aqui, agora. O depois vai se perder no tempo. Como é mesmo aquela frase? “Eu me perdi numa estrada e hoje quando me sinto é com saudade de mim”. “A luta dos desesperados que lutam por uma causa perdida”. “O encontro dos desesperados que lutam por uma causa perdida.” E agora a quem recorrer? “O desencontro dos desesperados que lutam por uma causa perdida.” Tão bonito isso. Trágico. O trágico me faz pensar. Não, essas frases que falam na luta, nos encontros e desencontros – são de um escritor amigo meu.
Quem é você? Não posso responder porque eu não sei mais. Eu esnobei, fui esnobado, e agora caio aos seus pés... Não, assim não... Melhor eu dizer: - Eu caio aos teus pés para te ofertar a maçã do pecado. Todo poder ao pecado. Venha brindar comigo esta frase, nesta noite selvagem como o coração de dois homens, dois bichos de significados diversos, capazes de varias releituras sem base á versão original. Original! O pecado é original? A primeira vez de um homem é o batismo, a purificação no gozo. Eu falei para completar sobre os deuses o que mesmo? Ah, é claro, você não tem a obrigação de saber. A coroa se espatifa ao chão e as pedras se desfazem no nada. A quem pertence a ordem do amor? Não, antes eu perguntei outra coisa, também não lembro. Isso eu não tinha perguntado ainda. O pouco que eu sei é sobre a desordem. É sobre o manancial de águas claras quando o olhar da sedução segreda a razão para algum ser perfeitamente racional. Mentira! Não é nada disso. Quando dois olhos se cruzam o que existe é um mergulho no abismo. É o tremor qualificado e sem a menor serventia. Isto não desperta a emoção voraz que se escondeu por meios ilícitos. Eu estou aqui à prova, a caráter, ou se preferir a rigor, ainda decidido. É, estou decidido. Sabe quantas pessoas eu seduzi com a minha palavra? Por que você não quer saber? Tem medo de ser mais uma? “O medo não vale nada quando chega o amor”. É o que? A minha palavra tem fogo. “O medo não vale nada quando chega o amor.” Tem uma música que diz o seguinte – “Toda palavra vele nada quando chega o amor”. De quem é a música? Venha para o meu leito que saberá. Você deita comigo que eu coloco o cd para tocar. Então, você acha que isto é chantagem? Encontro ânimo aqui, meio a verdade, meio a tentação de ter você embora não sabendo em que parte do mundo está a tua alucinação. Eu estou aqui quase pedindo para que você fique por mais um segundo a me perguntar segredos tão meus, a me induzir a responder tua curiosidade. Não quer o meu leito, então me abraça aqui no meio da sala sem dizer nada. Eu volto a filosofar com a intensidade do grito de um felino acuado meio a tanto pavor. Eu sou atirado, se o assunto for você... Eu sou avesso à formalidade se o caso for de amor. Gostaria de riscar a história e propagar a composição da tua alma alegre por me ver te falar carinhosamente.
Me deixe respirar três vezes. Eu estou estressado por uma junção de moléculas que se desordenam dentro do meu cérebro. Você não é perfeito? Mas eu o recrio perfeito. Por que você está me dizendo isso? Moléculas. Ah, tudo bem... Então é isso mesmo vamos substituir moléculas por espermatozóides. E o que está cheio não é o cérebro é o saco. Melhorou assim? Sabe quando acontece aquela tragédia? Aquela que nos deixa desorientado, provocada pela paixão. Eu me apaixonei no dia errado, na hora errada. E o que é pior, pela pessoa também errada. Temos pensamentos e ideais parecidas, mas a fatalidade quis estar presente. E isto veio como castigo para me punir por eu ter sido feliz numa relação passada. Os deuses não dão duas vezes amor para a mesma pessoa. Mentira, mentira, mais uma vez mentira. Eu não sei dessa verdade, não conheço a sensibilidade dos deuses. Ignoro a forma escolhida para o açoite. Eu, contudo gosto de ser escravo do amor correspondido. E este aqui está a mil distâncias de qualquer sintonia. A verdade mais escrota que eu sei é que ninguém se apaixona pela qualidade de outra pessoa, e sim pela beleza. Talvez, uma atriz de Hollywood dissesse: - Eu sou uma atriz, e Hollywood não aceita beleza interior.
Isso me perturbou. Por isso que na minha chegada pedi para que me deixasse respirar três vezes. Eu não sei nada, eu perco a inteligência, me torno adepto desse recurso preparado e festejado na alienação. O que ainda restará nesta agonia de sombra pálida e noites brancas a vapor de luzes? Me deixe ser, me deixe ser o raio e o relâmpago nesta noite de parafernália, de trovões fictícios e apavorantes. Eu sumo na palavra agora consumida. Não sou maior, me torno cada vez menor para me agigantar no teu mundo. Quem é você? Quem és tu? Recuso a representar tão mal o bem e o mal. A sorte se revela, e, no entanto pula comigo de cama em cama imaginárias onde houve reinado em outras eras.

Onde falta a lógica, tudo é curto. Me encurto também feito outra condenada a não ver o mundo. “Eu quero sonhar, sonhar, sonhar”. E nada acontece para alimentar a fantasia. Tu me ignoras, me tratas tão bem que chega a ignorar o bicho embravecido que se tesoa em mim, feito touro na arena, feito caçador destinado a devorar sua caça. Eu sou a sílaba fracionada na palma da minha língua, atrapalhada no teu beijo. Com o teu beijo qualquer ato de estrema ignorância me define de uma forma aceitável. Perdi a defesa, a coragem, a delicadeza. A folha se rompe como a madrugada consumida pela voz rouca e sensual do locutor distante do meu mundo. Nós debilitamos nossas almas cansadas de outras versões sem a menor verdade. Entre nós nada houve, mas é como se tivesse havido. Não somos mais os mesmos, não conversamos mais, não dizemos palavras e elogios a nós mesmos. Percebemos, somos imperfeitos. Eu não sabia que seria assim, e mesmo assim eu não queria... Se eu pudesse voltar atrás, eu não voltava, mas refazia o percurso que se deu. Você já não fala quase nada. Hipérbole. Hibridismo. Roleta de pontas afiadas e facas. Talvez você perca a importância, e eu não queria.
Veio o seu primeiro gesto de indelicadeza. Mas isso não é problema nosso. Por mais que não seja programado está havendo uma seleção natural; pior que a seleção formal. Tudo bem, isto acontece. Cada um faz a sua escolha, e as vezes irremediável. Toda escolha traz outros caminhos ignorados, tranqüilos, certos e incertos. Eu ainda permaneço subjetivo. A gente passa de uma forma concreta ou abstrata. Isto é bom, embora que percamos as raízes. Nobres, plebeus, não importa. Somos todos personagens do mesmo drama. Não me julgue mau, não me julgue chato. Eu não quero nada, eu quero apenas estar bem e esta é a maior de todas as vaidades e também necessidade coletiva. Um dia, uma hora, um segundo, houve um tempo, a própria gramática se rompe e não compreende a palavra impulsionada. Vamos ser profissionais, representantes da mesma farsa, atores do mesmo teatro. Quem sabe assim, a gente pode conseguir. Eu possa conseguir controlar o meu coração selvagem. Dói dizer isso porque eu sei que ele é dócil. Você não sabe, a minha forma física é humana, tenho o coração de um bicho noturno quando se abre o véu negro cobrindo todo o universo. Não sou eu mesmo, não sou a forma, sou a metamorfose. Vou fugir de você, fugir de uma forma selvagem, de uma sangria absoluta. A minha dramaticidade se acende no fogo da palavra. Você também fugiu de alguém, não negue. É verdade, você fugiu... Não lembra? Qual era o nome dessa pessoa? Com ela o seu caminho teria sido diferente. Hoje você viu apenas o ensaio. O caminho era outro. Ou seria esse?

Aqui é apenas o ensaio. Não esqueça. O que resta entre nós é apenas um adeus carregado e triste como a despedida. Você comanda o jogo e desfaz minhas armas de amor. Percebi de novo a sua tristeza. Nesta noite, a última noite, não dormirei, não existirei, não estarei comigo. Fujo para pensar: - Que futuro terei? O que me espera? Noites como esta. Isto já foi dito. Sabe porque? Porque o filme é o mesmo. Só mudam os atores. Alguma coisa propaga a nossa ausência e se é verdade que no amor não existem regras, eu posso roubar as cartas. Eu posso dizer ao mundo com um silêncio, a mais que uma palavra, a mais que um verbo na intenção do que pode acontecer. Se eu posso ainda, por que não tentar? Talvez a tentativa fácil demais ou simples na devoção.

Contudo, não vejo nós dois, não consigo enxergar o brilho que leva você longe, enquanto insisto na procura. Dois baralhos, duas cartas fora da verdade mal contada no vício do amor. O sono chegou, vou dormir e sonhar. Sonhar enquanto posso. E não esquecer de lembrar que “o amor não é eterno”. A situação também não. Naquela noite que eu fui bater na sua porta, alguma coisa me mandava fazer isso. E quem sou eu para não obedecer? Eu sempre obedeço. E aqui chegamos no clímax. Não existe mais tempo para guardar esse ensaio para o amor. Nesta noite, você pode ser meu de alguma forma. Qual? Não sei, acabo de falar que não existem regras. Acabo de pensar que não há covardia que me impeça de ir. Pode ser esta noite – A noite do amor. Love house nigth.

Basta ir, não custa tentar. O que impede? Cadê, você conseguiu lembrar o nome daquela pessoa? É, aquela pessoa que jogou tudo para o alto por você. E o caminho? Qual é o real? Esse ou aquele? Isto faz a diferença? Faz. Tem que fazer... Um é real e o outro apenas o ensaio para o amor.



Fim do monologo................. PROIBIDO MONTAGEM SEM PREVIA AUTORIZAÇÃO

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